Muitas curvas e neblina na subida |
NAZCA -CUZCO
Tentamos nos informar várias vezes sobre rotas para Cuzco, pois o google nos mandava por Ica – Hayacucho... Cuzco. Conversamos com alguns motoristas de caminhão e estes nos disseram que nesta rota havia um trecho de estrada de chão, então desistimos e rumamos para Nazca, de onde subiríamos por asfalto. Logo que passamos Nazca, começamos a subir uma serra e logo nos deparamos com uma neblina que pouco se enxergava a frente. Como é um trecho com curvas muito fechadas, os caminhões não conseguem fazer as curvas na sua mão, então eles entram na curva na contra-mão. Me assustei na primeira vez que vi um caminhão vindo para cima da moto na contra-mão e fui bem para o pequeno acostamento na minha direita e o caminhão passou bem perto. A neblina piorava e eu andava muito devagar, não enxergava nada, andava em segunda marcha com a viseira do capacete levantada. Mas já experiente, agora eu prestava atenção no som das buzinas dos caminhões, pois eles buzinam forte antes de entrar nas curvas, para avisar os que vêm em sentido contrário, que devem parar antes da curva. Os caminhões ocupam toda a pista na curva. Em três oportunidades, escutei o barulho de buzina e parei a moto, foi o tempo de o caminhão vir em minha direção e desviar.
Por volta dos 2600 mts de altitude, não havia mais neblina, acelerei para encontrar o Ademir que havia ultrapassado um caminhão e eu tinha ficado para trás.

Encontrei o Ademir parado em uma espécie de lancheria em Villatambo (se é que dá para chamar esses locais no interior do Peru de lancheria). Estava com frio, pois já andávamos por volta dos 3800 mts. Antes de entrar no local pedi para a senhora que estava na porta, um café com leite. Que arrependimento! Quando olhei melhor o estabelecimento (falta de higiene no local). O café estava quente e gostoso.
Começamos a rodar e logo veio novamente a neblina, agora um pouco mais fraca. Se transformou em chuva. Parei , coloquei roupa de chuva e olhei no termômetro da moto, 6 graus. Começamos a andar e rapidamente a temperatura caiu para 2 graus. A chuva no pára-brisa da moto começou a congelar. As mangas da minha jaqueta, que estava molhada, também estavam congelando. Descemos alguns metros e a temperatura subiu para 6 – 7 graus e notei que estava gelando a minha bunda no banco. Levantei um pouco e passei a luva no banco, ficou branca de gelo. Estava sentado sobre o gelo.
O gelo parou e eu imaginei, vai diminuir meu perrengue. Grande engano, fizemos uma curva e a estrada estava branca de gelo. Seguindo um trilho deixado por algum carro a nossa frente, andando bem devagar, pilotando na ponta dos dedos, como se estivesse na última volta de um grande premio. Fomos seguindo o caminho e graças a Deus não tivemos problemas. Com tanta adversidade, não tínhamos condições sequer de olhar para baixo ou para o lado (que deveria dar um pouco de medo, pois andávamos em grande altitude e, portanto, deveria haver alguns precipícios).
Quando passou o gelo, pensei sozinho dentro de meu capacete ... acho que já passamos por tudo nesta subida. Não é que me enganei novamente. Caiu um temporal com raios, de lavar a pista e escorrer barro e detritos dos morros por cima da estrada. A roupa não resistiu e eu já estava molhado.
Um temporal com temperatura em torno de 6 graus, molhado, pouca visibilidade, curvas, detritos em cima da pista. Que dureza!
Quem conhece esta estrada (sinuosa e em grande altitude), pode imaginar as dificuldades pelas quais passamos.
Pretendíamos chegar em Abancay onde tem hotéis e a gente poderia tomar um bom banho quente e se aquecer. Estava longe, mais 4hs de viagem e naquelas condições não deu mais para rodar.
Paramos em Puchio. Estamos no melhor hotel da cidade. Perrengue total. Dormi com calça e a camisa térmica. A água quente não aquece direito. Os quartos para dois são tão pequenos que tivemos de alugar um para cada. Pelo menos o meu tem até banheiro privativo. Não tem janela e tem cheiro de mofo. Olhei uns 6 quartos antes de escolher este. Acho que é o melhor.
As motos estão no que chamam de garagem do hostal, ou seja, no terreno ao lado junto com algumas galinhas, perus e até uma llama. Bati uma foto junto com a llama (pouco maior que um filhote) e perguntei ao rapaz da recepção o que aquele animal estava fazendo ali e ele respondeu que iriam matá-la em alguns meses. Para quem tiver interesse, Hostal Jousef.
Pegamos um taxi (novamente espécie de triciclo com motor de moto) e fomos a um restaurante. Comemos frango assado (frango de padaria) com arroz e fritas.
Cada dia de viagem estou mais convicto que esta é minha última viagem de moto. Estou com uma lesão nas costas, dói um pouco acima da bacia. Meus joelhos, coitadinhos encolhidos por mais de 20 dias, doem e o esquerdo estala quando espicho a perna. Minha bunda dói demais, não tenho mais posição para ficar sentado na moto por mais de uma hora. Acho que as dores são devidas aos meus problemas nos joelhos, que acabam forçando outras partes do corpo. Digo isto porque os demais colegas fisicamente sentem menos que eu.
Às 21,15hs, caindo de sono, tomei um antiinflamatório e dormi.
Pretendíamos sair de Puchio às 6hs, acordamos as 5 e as 5.30 ainda estava muito escuro e como tinha chovido muito na noite anterior, decidimos sair depois das 7hs. Durante o parco café da manhã o Ademir perguntou se eu havia sentido o tremor de terra que ocorreu por volta da 1hs da madrugada e que balançou a cama dele. Não senti nada.
Logo na saída da pequena Puchio, começamos a fazer curvas e subir. Dez km adiante, vários carros parados na estrada. Com a chuva da noite anterior e devido ao pequeno terremoto, uma pedra do tamanho de um caminhão tinha sido deslocada para cima da pista.
Conseguimos atravessar a barreira entre o acostamento e um peral (abismo) com um pouco de barro no acostamento!!!
Seguimos fazendo curvas e subindo. Quando chegamos acima dos 4000 mts, começaram a aparecer os primeiros gelos no acostamento. Com gelo próximo da pista de rolamento, a gente fica com um pouco de receio, pois há pequenas poças de água na estrada que podem estar congeladas. Tombo na certa (no nosso jargão, compraria um terreno no local).
Passei frio, temperatura a 2 graus com gelo e vento. Só para lembrar, como pegamos muita chuva no dia anterior, nossas luvas, roupas, botas e capacetes, estavam molhados. Nem o aquecedor de mão da bendita BMW resolveu. Tive que parar e colocar as mãos (com as luvas) na descarga da moto para esquentar.
A paisagem na altitude é maravilhosa. Grandes montanhas com seus cumes brancos de neve-gelo. Acredito que esta visão é ainda mais bonita para nós brasileiros, que dificilmente nos deparamos com este tipo de relevo.
Diminuiu a altitude próximo a Abancay. Em compensação, até Cuzco acredito que passamos por mais de 300 deslizamentos, desmoronamentos, pedras na pista....
Para quem viajar de Nazca a Cuzco, deve atentar para as adversidades da estrada, pois são dois dias andando em altitude e curvas. Faz muito frio e a pista pode estar congelada.
Em Cuzco ficamos na pousada Casa de Selenque, muito central, mais precisamente na praça de armas, por 80 dólares a diária. Bom custo-benefício.
Não há garagem na pousada, as motos ficaram estacionadas no corredor de entrada.
Cuzco é uma cidade antiga e bonita, além do que é trajeto para Machu Picchu. As igrejas e o Museu Inca valem a pena ser visitados. 10 soles o ingresso.
A noite acessei meus emails e li mensagem do Joel dizendo que também haviam chegado à cidade. Infelizmente não nos encontramos, pois eles iriam permanecer pelo menos mais um dia além de nós e sairíamos de manhã bem cedo.
Pela manhã, tiramos as motos do corredor do hotel, descendo alguns degraus de escada, e rumamos para Puerto Maldonado.
CACHORRO DE ALTITUDE É PELUDO |
FRIO E GELO |
RIO CORRENDO POR CIMA DA ESTRADA CASCATA À BEIRA DA ESTRADA |
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