sexta-feira, 30 de março de 2012

DESEMPENHO DA BMW F800 GS

 A MOTO.

A moto tem correspondido as expectativas. Motor menos potente que a anterior Dl 1000, porém é mais leve e versátil.

O grande diferencial, o freio  ABS que aumenta a confiança do piloto ao frear, mesmo em curvas. Considerando que andamos mais de 12.000km em estradas e em muitas situações, com centenas de quilômetros de curvas, é perfeitamente normal que o piloto erre ao entrar em algumas das curvas que se mostram a nossa frente. Neste momento, só quem anda de moto, tem conhecimento que às vezes é difícil corrigir este erro. Aí, o freio ABS faz toda a diferença.

 A autonomia não é boa para as grandes viagens, mais dois ou três litros no tanque fariam uma grande diferença. A média de km por litro tem se mantido acima de 20, dependendo da velocidade e altitude que andamos. A grande surpresa foram os quase 30 km por litro feito na passagem por Paso de Jama (andando sempre acima dos 3000mts de altitude) e em baixa velocidade.

É boa de curva.

Durante o percurso entre Moquegua e Puno, com seus 260 km de curvas, fechadas, fechadíssimas, esquinas e algumas mais abertas, a F800 se comportou bem. Há nesta pista muitos pontos com desmoronamentos, deixando a pista com sujeira, fazendo com que a moto em duas ou três oportunidades saísse de traseira. A dianteira se mostrou mais firme nas curvas.  As duas DL650 se mostraram melhores nas curvas, mas perdem em retomada e ultrapassagem.

Perdeu potência acima de 4000 mts altitude. Para melhor aproveitamento, andava com o motor sempre cheio, com giro mais alto, mas foi notável a perda de potência. Na DL1000 não sentia a mesma perda, talvez pela diferença de HPs.

Quando viajamos entre Cuzco e Puerto Maldonado (Peru) a moto se mostrou extremamente versátil. Tenho dúvidas se conseguiríamos ultrapassar os diversos obstáculos com outra moto.
Devo salientar que a manopla com aquecimento foi extremamente útil nas grandes altitudes.


 



Os defeitos da moto para grandes viagens são facilmente detectados:

-Banco desconfortável – troquei pelo banco confort original da BMW

-Parabrisa muito baixo – substituído pelo mais alto da GIVI

-Altura do solo – com bagagem e equipamento, fica mais difícil qualquer parada ou manobra em baixa velocidade.   É importante salientar que com o banco confort  a altura do solo aumenta em mais 1,5 cm (creio que qualquer piloto com altura inferior a 1,75mts teria muita dificuldade em pilotar).

Esta altura toda acaba aumentando muito a arrasto quando há vento  lateral forte. Este vento pega a moto e piloto meio de lado, incomoda e aumenta consideravelmente o consumo.

Os pneus com câmara acabaram sendo um tormento, pois furei os dois. Caso fossem pneus sem câmara, seria muito mais fácil o concerto.


TINHA UMA ÁRVORE NO MEIO DO CAMINHO....



sexta-feira, 16 de março de 2012

CUZCO - PUERTO MALDONADO - RIO BRANCO


DESMORONAMENTOS



CUZCO – RIO BRANCO
Motos carregadas, café tomado, fomos para a estrada por volta das 7,30hs.
Um lindo dia de sol, temperratura por volta dos 8 graus. Começamos a subir a serra e logo a uns 10 km nos deparamos com dezenas de caminhões parados no acostamento da rodovia. Como sempre, levamos as motos para frente da fila e nos vimos algo parecido com uma manifestação. Enquanto passava pelos manifestantes consegui ler uma faixa que dizia .... qualquer coisa MINEIROS... havia barro no local e não tive oportunidade de prestar a devida atenção naquilo.

A subida da serra foi magnífica, como de costume muito frio, montanhas brancas de neve. Ao chegarmos ao topo da serra, com seus 4725 mts, havia bastante gelo e paramos para tirar fotos.

Logo iniciamos a descida e passamos por vales muito bonitos, bastante verde e um rio que serpenteava pelo vale e nos acompanhava.

Passados alguns km, deu-se início  trechos com  desmoronamentos. Época de chuvas na região, alguns km e desmoronamentos, mais alguns km e igual, pista interrompida devido aos “derrumbres”.

Começou uma chuva danada,  andamos mais de100 km com muita chuva e eu, logicamente, não coloquei a roupa de chuva porque pensei que fosse um tipo de chuva de verão e que logo cessaria. Vale lembrar que a roupa normal para motociclista, é impermeável, ou pelo menos quando nos vendem dizem que é. Em 1h estava bem molhado, mas a temperatura estava agradável, portanto não judiava muito.

Faltando aproximadamente 200 km para Puerto Maldonado, fomos parados por uma barreira policial, acho que das forças armadas. Recebemos a informação de um militar que não poderíamos seguir, porque a rodovia estava trancada em diversos pontos devido a uma greve geral dos mineiros informais (ilegais) peruanos. Outro militar que se encontrava sentado e protegido por uma lona, disse que nos deixasse seguir, pois com as motos talvez conseguíssemos seguir.

Rodamos alguns km e encontramos um piquete no meio da estrada, com paus e pedras fazendo uma barreira na pista. Centenas de pessoas nas margens da rodovia. Fomos andando, andando e acabamos afunilados pelas pessoas que diziam que não poderíamos passar. Era a tal greve dos mineiros informais do Peru. Conversei com a liderança do grupo, expliquei que estava molhado, cansado, com fome e que estava com pouco combustível, pois todos os postos pelos quais passamos estavam fechados.  Pedi a colaboração dos grevistas que nos deixassem seguir viagem, e que tivessem sucesso com o pleito. Perguntei se quem estava governando era de partido de esquerda. Me informaram que era um governo nacionalista. Falei alto e em bom tom  do ex-presidente Lula. Recebi alguns aplausos e gritos de aprovação. Mandaram passar pelo acostamento.

Não havia gasolina, todos os postos estavam fechados e com faixas escritas  VIVA EL PARO. Conseguimos combustível com um motoqueiro em uma cidadezinha, pelo dobro do preço cobrado nos postos. Ficamos agradecidos, pois caso conseguíssemos passar por todas as barreiras, e com aquele combustível, chegaríamos a P. Maldonado.



A todo o momento, principalmente próximo aos povoados, havia árvores e pedras trancando a estrada. Passávamos pelo acostamento, por um atalho, por cima de pequenos troncos, desviando das centenas de pedras colocadas no meio da estrada para evitar passagem de veículos maiores. ...

Fizemos uma curva e demos de cara com duas árvores derrubadas na pista. Pensei que tivéssemos chegado ao limite, que não passaríamos. Consegui passar pelo lado de uma, pelo acostamento e por baixo da outra. Explico... cortaram a árvore e a derrubaram na pista. A arvore foi derrubada de um pequeno barranco com elevação, em torno de 1,5 mts. Como era mais alto que a estrada, o caule com a parte das folhas ficou no lado direito da pista e no lado esquerdo (na contramão) o caule estava em cima do barranco, então encolhemos as cabeças e passamos por baixo.

Em outro ponto da estrada não havia espaço para passar. Descemos a estrada e conseguimos passar pelo lado, com  a grama molhada e bastante inclinada. As motos derrapavam. Um de nós pilotava e o outro empurrava a moto para o lado da estrada, oposto da inclinação, pois caso a moto pendesse para o lado da inclinação, não teríamos apoio com os pés devido à altura. Deu certo, passamos mais um.

Alguns km e mais algumas dezenas/centenas de pessoas –mineiros e simpatizantes – e um grande coqueiro atravessado na estrada. Disse ao Ademir ... por este não passamos.. Conversamos novamente com a liderança do movimento e contando com a simpatia deles pelos brasileiros, os manifestantes -8 a 10 homens- levantaram as motos e as passaram por cima do grande caule do coqueiro.

Em praticamente todos os piquetes, havia pessoas contrárias a nossa  passagem, dizendo que o movimento deles também era contra os estrangeiros. No que eu replicava que não éramos europeus ou ...estadunidenses... e sim brasileiros com grandes e graves problemas, assim  como eles.

Em outro piquete,  um senhor desdentado disse que teríamos que pagar para poder passar pelo piquete, respondi que pelo que me tinham informado, o movimento, manifestação ou protesto, era uma pretensão legítima dos mineiros e que nós turistas brasileiros estávamos torcendo pelo sucesso do movimento. Alguns nos aplaudiram e mandaram passar.

Quando via um aumento de pessoas andando pelo acostamento, tinha certeza que existia um povoado, vila nas proximidades. Primeiro avistava as pessoas no acostamento, poucas, mais alguma centenas de metros e já tinha gente em cima da pista, até que havia tanta gente que nos  afunilavam e tínhamos que parar. Quando havia oportunidade procurava parar a moto junto a um aglomerado de pessoas, pois parecia que sempre tinha um líder.  

Imaginei que o pior já tinha passado. Enquanto andávamos, bem devagar, vi um grande número de pessoas pelo acostamento e mesmo sobre a pista.

Olhei para a direita e vi centenas de barracas feitas com alguns paus e lonas de cor azul. Parecia um acampamento do MST brasileiro.

Há aproximadamente 120 km de Puerto Maldonado, encontramos muitas pessoas com gestos hostis. Pedaços de pau nas mãos. Conforme íamos passando pelos manifestantes notava atitude agressiva por parte deles. O Ademir andava a frente, vi quando um grevista enrolou uma toalha molhada e  bateu nas costas dele. Tentou bater em mim e não acertou, acho que pegou na mochila que levo entre mim e o bauleto. Em compensação, alguns metros a frente um deles me deu um forte tapa nas costas e mais alguns mts vi um manifestante levantar um galho e senti uma paulada no capacete. Outro deu um pontapé na moto, quase me desequilibrei. Outra batida com pedaço de pau no capacete. Senti medo. Fiquei bastante nervoso. Sou policial a mais de 30 anos, ninguém me agride sequer verbalmente, imaginem fisicamente. Tenho a impressão que a última vez em que fui agredido deveria ter menos de 12 anos em briga de guri em São José do Norte.

Eu previa que logo não conseguiríamos mais passar, se formaria o  funil e encontraríamos a liderança para poder conversar.

Afunilou, muitos empurrando as motos, caras hostis, chingando. Apareceu um sujeito e gritou que se tinham nos deixado andar até ali,  que seguíssemos viagem. Novo tapa no capacete e empurrão na moto. Gesticulei ao líder manifestando minha contrariedade com as agressões, pois ele já tinha dito para passarmos. Ele mandou que seguíssemos rápido em frente. Passamos. Agora eu estava com medo. Pois uma coisa era não poder passar e voltar para qualquer lugar e outra era ser agredido. Agora pressentia que poderíamos ser machucados.

À noite no hotel conversamos com algumas pessoas e estas repassaram nosso perrengue para o noticiário da tv ...canal 27. Vimos e ouvimos no noticiário local que dois brasileiros motociclistas conseguiram furar o bloqueio imposto pelos manifestantes e tinham conseguido chegar a Puerto Maldonado. Criticaram os órgãos de segurança por terem permitido que nossa passagem.

Posso dizer com toda a certeza, ninguém, com exceção de nós, passou  pelos piquetes neste grande percurso que fizemos.  A região tem minas de exploração de ouro por isto o grande problema. Estávamos no olho do furacão.

Soubemos que durante o dia nas manifestações, ocorreram três mortes e 1 policial ferido.

Continuo sem gasolina e pretendemos viajar amanha cedo. Não tão cedo como pretendíamos, pois nos informaram que foi decretado toque de recolher e ninguém pode sair antes das 6 ou 7hs,

Por volta de 8hs, saímos do hotel com uma chuva danada. Disseram-nos que ao atravessarmos a ponte, sairíamos da província de P Maldonado e não haveria mais problemas, porque a polícia já tinha desbloqueada a ponte na tarde anterior. Também conseguiria gasolina. Ocorreu como informado.

Agora era só andar na chuva e chegar a Rio Branco à tardinha, como planejado. Esta é uma coisa que não aconteceu como prevemos nesta viagem, o tal planejamento. Parece que o danado do planejamento não queria rodar com nossas motos.  PLANEJAMENTO. Todos os motociclistas que realizam grandes viagens se orgulham tanto do planejamento da viagem.

Rodamos com chuva forte e por uma estrada com pouquíssimas curvas, mais ou menos 70 km, quando fui fazer uma ultrapassagem e senti a moto instável, tive a impressão que derrapou, saiu um pouco de traseira. Achei que tinha acelerado muito forte em cima da pintura de sinalização que divide as faixas. Nesta tinta, quando molhada, há menos aderência.

Mais 1 ou 2 km e notei que a moto estava frouxa, instável. Parei e olhei o pneu dianteiro, parecia cheio. No entanto o traseiro estava  meio murcho. Esperei o Ademir retornar, pois logo ele notaria a falta da luz do farol da minha moto em seu retrovisor.

Olhei o pneu e a cabeça de um peque prego estava brilhando e olhando pra mim.

Pensei. Pneu com câmara. Quem tinha material para remendo de pneu eram os parceiros que estavam em Cuzco.

Ademir retornou e pedimos informação a um caminhoneiro que parou e disse que tinha um povoado a 2 km.

O pneu estava bastante murcho. Coloquei o peso do corpo em cima do guidão e fui rodando. Falei para o Ademir ficar de olho no pneu. Não poderia danificá-lo. Onde conseguiria um pneu daquele? Talvez em Lima.

Chegamos ao povoado. Paramos no pequeno posto de combustível e o Ademir disse ao moço que a moto estava com pneu furado e se poderia colocá-la dentro do posto para concerto. O rapaz se mostrou prestativo e começou a tentar retirar a roda traseira. Não tinha ferramentas apropriadas. Conseguiu com uma chave do tipo que se aperta cano de água. Retirou a roda e disse para levarmos na borracharia que ficava a nus 50 mts...... pqpariu... Porque não nos disse que tinha uma borracharia perto.....

O borracheiro informou que só poderia concertar “a frio”, pois a máquina que solda quente estava queimada. Em principio não haveria nenhum  problema. Retirou uma tachinha do pneu.

Colocar a roda no lugar, necessita retirar o parafuso do ABS. Ninguém tinha a ferramenta necessária. Graças ao conhecimento e experiência do Ademir, a roda foi colocada,  depois de duas horas.

Cobraram 10 soles para os dois (em torno de 4 dólares). Paguei 10 para cada um em agradecimento.

Colocamos novamente roupa de chuva, luvas, capacete e fui retirar a moto de dentro da espécie de escritório do posto. Tive dificuldade em movimentar a moto, estava muito pesada. O rapaz do posto, Jose, olhava para o pneu dianteiro e disse..está murcho!!!!

Resultado dos piquetes. Também tinha uma tachinha no pneu dianteiro e mais uma no traseiro. Não  havia nenhuma ferramenta para retirar a roda. Pois é necessário retirar os parafusos do ABS do freio dianteiro. Novamente graças ao conhecimento do Ademir, conseguimos contornar a situação. Concertaram a câmara de ar com o pneu no lugar. Difícil, muito difícil principalmente devida a precariedade ou falta de ferramentas do local.

Mais uma hora e o pneu dianteiro também estava pronto para seguir viagem.

Chuva o dia inteiro e chegamos a Inapari, última cidade peruana antes da fronteira com o Brasil. Aduana e imigração rápida e fácil.

Todos queriam saber de onde vínhamos e principalmente como conseguimos passar. Alguns viajante que aguardavam na fronteira perguntaram se poderiam seguir para Cuzco, inclusive um peruano com uma Harley que estava retornando a Lima depois de um tour no Brasil.

Desaconselhamos a todos. Enfaticamente...NÃO VÃO... NÃO CONSEGUIRÃO PASSAR... NEM TENTEM ....

Queríamos chegar em Rio Branco, mas em  razão dos percalços acabamos por decidir dormir em Epitaciolândia.

Meus queridos, o dia ainda não acabou.

As cidade de Brasiléia e Epitaciolândia são divididas por uma velha ponte de ferro, onde há um semáforo e passagem por apenas uma pista.

O Ademir, na minha frente e atrás de uma carreta. Continuava chovendo. A danada da ponte tem tábuas, um tipo de assoalho, piso bem lustrado. Não deu outra. Quando vi, a moto do Ademir derrapou muito rápido, como se as tábuas estivessem com sabão e ele caiu contra as barras de ferro da lateral da ponte. Vi quando bateu forte a cabeça (bendito capacete) em uma coluna de ferro. As costas em outra grande barra de ferro. Parei a moto e tranquei o trânsito. Acho que ficou desacordado por breves instantes, pois estava extremamente branco e dizendo que não enxergava direito. Dor nas costas, mão direita ou esquerda inchada, calça com proteção rasgada no joelho e a jaqueta, também com proteção,  com o forro interno rasgado.

Várias pessoas disseram  que é comum a queda de motos nesta ponte em dias de chuva. As tábuas são muito lisas devido ao movimento de carros e principalmente quando passa um caminhão, as tábuas são levantadas pelo peso. Imaginem vocês, andar de moto e de repente a tábua em que está a roda da moto simplesmente se deslocar....

Chegamos em Rio Branco por volta do meio dia. Hotel reservado pelo amigo Mauricio Lisboa.




PLAZA DE ARMAS - CUZCO

 FRIO A 4700 MTS.

INÚMEROS DESMORONAMENTOS

GREVE GERAL - COMPRANDO GASOLINA NA VILA


PNEUS FURADOS COM PREGOS COLOCADOS NA ESTRADA PELOS GREVISTAS






Ademir, depois da queda na ponte Brasiléia-Epitaciolância



ÁRVORE TRANCANDO A ESTRADA


terça-feira, 13 de março de 2012

ESTRADA NAZCA - CUZCO



Muitas curvas e neblina na subida

NAZCA -CUZCO

Tentamos nos informar várias vezes sobre rotas para Cuzco, pois o google nos mandava por Ica – Hayacucho... Cuzco. Conversamos  com alguns motoristas de caminhão e estes nos disseram que nesta rota havia um trecho de estrada de chão, então desistimos e rumamos para Nazca, de onde subiríamos por asfalto. Logo que passamos Nazca, começamos a subir uma serra e logo nos deparamos com uma neblina que pouco se enxergava a frente. Como é um trecho com curvas muito fechadas, os caminhões não conseguem fazer as curvas na sua mão, então eles entram na curva na contra-mão. Me assustei na primeira vez que vi um caminhão vindo para cima da moto na contra-mão e fui bem para o pequeno acostamento na minha direita e o caminhão passou bem perto. A neblina piorava e eu andava muito devagar, não enxergava nada, andava em segunda marcha com a viseira do capacete levantada. Mas já experiente, agora eu prestava atenção no som das buzinas dos caminhões, pois eles buzinam forte antes de entrar nas curvas, para avisar os que vêm em sentido contrário, que devem parar antes da curva. Os caminhões ocupam toda a pista na curva. Em três oportunidades, escutei o barulho de buzina e parei a moto, foi o tempo de o  caminhão vir em minha direção e desviar.

Por volta dos 2600 mts de altitude, não havia mais  neblina, acelerei para encontrar o Ademir que havia ultrapassado um caminhão e eu tinha ficado para trás.


Encontrei o Ademir parado em uma espécie de lancheria em Villatambo (se é que dá para chamar esses locais no interior do Peru de lancheria). Estava com frio, pois já andávamos por volta dos 3800 mts. Antes de entrar no local pedi para a senhora que estava na porta, um café com leite. Que arrependimento!  Quando olhei melhor o estabelecimento (falta de higiene no local). O café estava quente e gostoso.

Começamos a rodar e logo veio novamente a neblina, agora um pouco mais fraca. Se transformou em chuva. Parei, coloquei roupa de chuva e olhei no termômetro da moto, 6 graus. Começamos a andar e rapidamente a temperatura caiu para 2 graus. A chuva no pára-brisa da moto começou a congelar. As mangas da minha jaqueta, que estava molhada, também estavam congelando. Descemos alguns metros e a temperatura subiu para 6 – 7 graus e notei que estava gelando a minha bunda no banco. Levantei um pouco e passei a luva no banco, ficou branca de gelo. Estava sentado sobre o gelo.

O gelo parou e eu imaginei, vai diminuir meu perrengue. Grande engano, fizemos uma curva e a estrada estava branca  de gelo. Seguindo um trilho deixado por algum carro a nossa frente, andando bem devagar, pilotando na ponta dos dedos, como se estivesse na última volta de um grande premio. Fomos seguindo o caminho e graças a Deus não tivemos problemas. Com tanta adversidade, não tínhamos condições sequer de olhar para baixo ou para o  lado (que deveria dar um pouco de medo, pois andávamos em grande altitude e, portanto, deveria haver alguns precipícios).

Quando passou o gelo, pensei sozinho dentro de meu capacete ... acho que já passamos por tudo nesta subida. Não é que me enganei novamente. Caiu um temporal com raios, de lavar a pista e escorrer barro e detritos dos morros por cima da estrada. A roupa não resistiu e eu já estava molhado.

Um temporal com temperatura em torno de 6 graus, molhado, pouca visibilidade, curvas, detritos em cima da pista. Que dureza!

Quem conhece esta estrada (sinuosa e em grande altitude), pode imaginar as dificuldades pelas quais passamos.

Pretendíamos chegar em Abancay onde tem hotéis e a gente poderia tomar um bom banho quente e se aquecer. Estava longe, mais 4hs de viagem e naquelas condições não deu mais para rodar.

Paramos em Puchio. Estamos no melhor  hotel da cidade. Perrengue total.  Dormi com calça e a camisa térmica. A água quente não aquece direito. Os quartos para dois são tão pequenos que tivemos de alugar um para cada. Pelo menos o meu tem até banheiro privativo. Não tem janela e tem cheiro de mofo. Olhei uns 6 quartos  antes de escolher este. Acho que é o melhor.

As motos estão no que chamam de garagem do hostal, ou seja, no terreno ao lado junto com algumas galinhas, perus e até uma llama. Bati uma foto junto com a llama (pouco maior que um filhote) e perguntei ao rapaz da recepção o que aquele animal estava fazendo ali e ele respondeu que iriam matá-la em alguns meses. Para quem tiver interesse, Hostal Jousef.


Pegamos um taxi (novamente espécie de triciclo com motor de moto) e fomos a um restaurante. Comemos frango assado (frango de padaria) com arroz e fritas.

Cada dia de viagem estou mais convicto que esta é minha última viagem de moto. Estou com uma lesão nas costas, dói um pouco acima da bacia. Meus joelhos, coitadinhos encolhidos por mais de 20 dias, doem e o esquerdo estala quando espicho a perna. Minha bunda dói demais, não tenho mais posição para ficar sentado na moto por mais de uma hora. Acho que as dores são devidas aos meus problemas nos joelhos, que acabam forçando outras partes do corpo. Digo isto porque os demais colegas fisicamente sentem menos que eu.

Às 21,15hs, caindo de sono, tomei um antiinflamatório e dormi. 

Pretendíamos sair de Puchio às 6hs, acordamos as 5 e as 5.30 ainda estava muito escuro e como tinha chovido muito na noite anterior, decidimos sair depois das  7hs. Durante o parco café da manhã o Ademir perguntou se eu havia sentido o tremor de terra que ocorreu por volta da 1hs da madrugada e que balançou a cama dele. Não senti nada.

Logo na saída da pequena Puchio, começamos a  fazer curvas e subir. Dez km adiante, vários carros parados na estrada. Com a chuva da noite anterior e devido ao pequeno terremoto, uma pedra do tamanho de um caminhão tinha sido deslocada para cima da pista.

Conseguimos atravessar a barreira entre o acostamento e um peral (abismo) com um pouco de barro no acostamento!!!

Seguimos fazendo curvas e subindo. Quando chegamos acima dos 4000 mts, começaram a aparecer os primeiros gelos no acostamento. Com gelo próximo da pista de rolamento, a gente fica com um pouco de receio, pois há pequenas poças de água  na estrada que podem estar congeladas. Tombo na certa (no nosso jargão, compraria um terreno no local).

Passei frio, temperatura a 2 graus com gelo e vento. Só para lembrar, como pegamos muita chuva no dia anterior, nossas luvas, roupas, botas e capacetes, estavam molhados. Nem o  aquecedor de mão da bendita BMW resolveu. Tive que parar e colocar as mãos (com as luvas) na descarga da moto para esquentar.

A paisagem na altitude é maravilhosa. Grandes montanhas com seus cumes brancos de neve-gelo. Acredito que esta visão é ainda mais bonita para nós brasileiros, que dificilmente nos deparamos com este tipo de relevo.

Diminuiu a altitude próximo a Abancay. Em compensação, até Cuzco acredito que passamos por mais de 300 deslizamentos, desmoronamentos, pedras na pista....

Para quem viajar de Nazca a Cuzco, deve atentar para as adversidades da estrada, pois são dois dias andando em altitude e curvas. Faz muito frio e a pista pode estar congelada.  


Em Cuzco ficamos na pousada Casa de Selenque, muito central, mais precisamente na praça de armas, por 80 dólares a diária. Bom custo-benefício.

Não há  garagem na pousada, as motos ficaram estacionadas no corredor de entrada.

Cuzco é uma cidade antiga e bonita, além do que é trajeto para Machu Picchu. As igrejas e o Museu Inca valem a pena ser visitados. 10 soles o ingresso.




A noite acessei meus emails e li mensagem do Joel dizendo que também haviam chegado à cidade. Infelizmente não nos encontramos, pois eles iriam permanecer pelo menos mais um dia além de nós e sairíamos de manhã bem cedo.  

Pela manhã, tiramos as motos do corredor do hotel, descendo alguns degraus de escada, e rumamos para Puerto Maldonado.    






CACHORRO DE ALTITUDE É PELUDO

FRIO E GELO



RIO CORRENDO POR CIMA DA ESTRADA




CASCATA À BEIRA DA ESTRADA

TRUJILLO

Depois de rodar 600 km pelo litoral e deserto peruano, chegada na praça central de Trujillo

MANCONA - LITORAL PERUANO

Águas quentes,  praias bonitas e baratas

LITORAL EQUADOR



sexta-feira, 9 de março de 2012

Quito e a metade do mundo

DIA 17   06/03
        Pela manhã levamos as motos na BMW para revisão. Havia encaminhado um e-mail marcando as revisões da minha moto e a do Maciel. O Ademir também aproveitou para trocar o óleo da dele. Paguei 150 dólares pela revisão dos 10 mil km. Acredito que no Brasil seria mais caro.
        Fizemos um tour pela cidade em um ônibus de turismo, 12 dólares por pessoa.
Por falar em dólar, a moeda equatoriana é o dólar americano. Não há moeda nacional no Equador. 
        Mais tarde, contratamos uma camioneta com motorista (15 dólares por pessoa) para nos levar ao Parque Metade do Mundo e para visitar o museu. Visita muito interessante: existe uma “metade do mundo” antiga e uma nova, esta marcada com as medidas realizadas por GPS.
       Caminhar com os olhos fechados na metade do mundo é impossível, a gente pende para um lado ou para outro... Outra experiência feita pela guia: a água em um tanque na linha do meio do mundo sai sem fazer redemoinhos; colocando o tanque dois metros para a direita, a água sai fazendo um redemoinho em sentido horário e com o tanque a dois metros para a esquerda, a água faz redemoinho em sentido anti-horário.
    Amanhã acordaremos antes das 5hs. Arrumar bagagem para sair as 6hs, fugindo do trânsito pesado de Quito.



Quito - Catedral

Um abraço na companheira limpa e revisada. Parceira para os próximos milhares de km

Depois de 8500 km, enfim estamos no parque metade do mundo - LATITUDE ZERO
Parque Metade do Mundo

                                                            CABEÇA REDUZIDA

          EXATAMENTE NA METADE DO MUNDO, A ÁGUA NÃO FAZ REDEMOINHO




                     DOIS METROS NO HEMISFÉRIO SUL - ÁGUA EM SENTIDO HORÁRIO


 
DOIS METROS NO HEMISFÉRIO NORTE - ÁGUA SENTIDO ANTI-HORÁRIO

Carimbo no passaporte: LATITUDE ZERO





quarta-feira, 7 de março de 2012

Cuenca – Quito

DIA 16  05/03
    Tivemos alguma dificuldade Para chegar a Quito devido à falta de mapas do Equador
nos GPS. Somente o Zé conseguiu baixar o mapa do Equador, mas o suporte do GPS quebrou por causa dos constantes buracos da estrada até Cuenca. Assim, em cada bifurcação ou entrada de alguma localidade, o Maciel consultava o mapa rodoviário.
      A DL650 do Zé teve avaria no sistema de ignição. Fomos abastecer e a moto não pegou mais no arranque, só ligava o motor no tranco. O pessoal descobriu mais tarde, já no hotel em Quito, que o problema estava em um mau contato no cabo da embreagem. As DL só viram o arranque quando se apertar a embreagem e, como havia o dito mau contato, o sistema de ignição não reconhecia que o manete da embreagem estava apertado.
      Depois de tudo e com certa dificuldade, achamos o centro histórico de Quito e estacionamos as motos para procurar hotel.
       É impressionante como as motos chamam a atenção das pessoas. Em determinado momento, enquanto procurávamos outras opções de hospedagem, havia umas 30 pessoas ao redor das motos e de nós. Perguntavam de onde éramos, nosso roteiro, desejavam sorte...
       Entre outros, Agustin Cruz e seu filho Junior vieram matar a curiosidade e perguntamos a ele onde poderíamos encontrar um bom hotel com preço justo. Eles prontamente se ofereceram para nos acompanhar à zona norte da cidade e ao bairro Mariscal, que é um bairro turístico mas com hospedagem mais em conta que no centro histórico. Nos levaram em dois locais e acabamos optando pelo hotel Ambassador, com camas limpas e confortáveis, quartos grandes e com bom café da manhã.
     


 A capital equatoriana me surpreendeu positivamente, principalmente seu centro histórico. Gostei muito mais de conhecer e passear em Quito que em Lima.
       À noite, jantamos no ótimo restaurante Vista Hermosa. Tem um mirante bem legal, donde batemos várias fotos. 

  




segunda-feira, 5 de março de 2012

Macara - Cuenca

DIA 15 04/03

De Macara a Cuenca, ninguém merece os primeiros 100 km da estrada : buracos; mais buracos; curvas; um pouco de asfalto; desmoronamentos (serra em época de chuvas); mais buracos;  animais na pista ( todos os tipos, sabores e cores- cavalos, cabritos, burricos, ovelhas, vacas, lagartos, galinhas, porcos); .....
A paisagem da serra equatoriana é muito bonita. Parece com a cordilheira, mas tem muito verde, apesar da altura de mais de 2.500m. As montanhas são altas e há grandes vales. Isto vale a pena. Mas a estrada só melhora depois de rodar 100km.
O grupo chegando a Cuenca


Centro histórico de Cuenca
                                               
Portal da catedral
                                          


Vista da estrada Cuenca-Quito entre vales e montanhas
               

Lambayeque - Macara

DIA 14   03/03

Chegamos ao Equador por  Macara, aduana e imigração com relativa celeridade. Pernoitamos no hotel LOS ARROZALES, bom  e barato.
Fomos jantar no  restaurante Los Delfines, com paredes de palha e de chão batido, póximo ao hotel. O proprietário e também cozinheiro Arturo Andrade e seu filho Miguel nos sugeriram o prato "pescado a la diabla" (mariscos, camarões, filé de peixe e patacon – banana verde frita). Muito bom.
No dia seguinte, nos dirigiríamos a Cuenca, rumo Loja.

Depois de rodar mais de 7.000 km, finalmente ingresso no Equador
   

Fronteira Peru-Equador
                                               
Serra equatoriana - muito bonita

A gente lancha o que tiver

Indio Saraguro - Serra do Equador